quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Visitinha

Mãe, lá vem de novo sua data preferida.

O que lhe importa isso agora, não é?

Nâo sei... talvez importe...


Estamos nos esforçando bastante para manter a tradição de fazer de 25 de dezembro uma noite feliz, mas está duro. Será o terceiro Natal sem você. Não posso evitar: fica tudo sem graça. As músicas que amávamos se tornaram irremediavelmente tristes. Principalmente Natal Branco. Pra piorar as coisas o Maurício também não está aqui.

O Natal de vocês dois será mais animado que o nosso...


Ainda não decidimos nada sobre o cardápio, acredita? A anos atrás já teríamos nos reunidos para pensar sobre isso, para sortear o "Amigo Invisível"... Era tão divertido! Ríamos demais quando tirávamos o nosso próprio nome. As vezes tínhamos que refazer várias vezes o sorteio - sempre entre gargalhadas, piadas e tolices deliciosas.

E como não lembrar das suas preferências na hora de escolher o cardápio? A rabanada, o bolinho de bacalhau, a salada de frutas, nozes, figos secos... Maurício sempre falava em leitão. Lembra daquele ano em que ele fez uma "vaca atolada"? Lembra dos nossos amigos chegando em casa?

Puf! Acabou!


Não vou mais fazer rabanadas. Eu as fazia só por sua causa. Você comia com um prazer! Como se estivesse comendo a melhor coisa do mundo.


Era sempre assim. Você era a "Senhora Natal". Nem lhe passava pela cabeça deixar de comemorar essa data tão família. Deus o livre! Sempre que mostrávamos preguiça e pensávamos em fazer algo mais simplezinho você se adiantava e dizia "tudo bem, deixe então mais esse prato que eu faço... não se preocupem. Eu e o Maurício, a gente faz, né?" E ele topava.

Não enfeitei minha casa. Nem vou enfeitar.

O que você gostaria de ganhar de Natal? Nas últimas vezes que lhe perguntamos você sempre ficava indecisa e, por fim, dizia que não precisava de nada. A gente comprava assim mesmo.

Quando os meninos eram pequenos você comprava presentinhos para eles, para todos nós. Eu sentia tanto carinho nisso!

Seria tão bom se você e Maurício voltassem só para passar o Natal com a gente! Visitinha rápida! Não iríamos prender você. A gente entende que não poderiam ficar muito tempo. Não pediríamos explicações, não contaríamos a ninguém, não chamaríamos os amigos. Seria o nosso segredo. Fecharíamos as portas e cortinas e cantaríamos Noite Feliz bem baixinho pra não chamar a atenção de ninguém. Desligaríamos o telefone.

Acabaria quando vocês se fossem. De novo. Pra sempre.

Cristina Faraon