sábado, 31 de dezembro de 2011

Migração

Olho para o céu e, parece-me: todas as aves voam para ti.

Há uma festa para onde elas estão indo, mas elas não dizem nada. Se eu pudesse segui-las chegaria a ti, mas não posso.

Sinto inveja das aves que pousarão no teu ombro e brincarão nos teus cabelos. Sinto inveja desse vôo silencioso, cheio de segredos. Sinto inveja desse caminho certeiro, dessa ausência de dúvidas que só as aves têm.

Sigo meu caminho na Terra. Cumpro a minha sina, que nem tem sido penosa. A vida é boa, embora fique aquela dor antiga incomodando o sapato. Mas é assim mesmo: todos os sapatos doem e as dores nem sempre se despedem.

Sinto saudades, mãe. A senhora sabe disso.

Um dia o meu caminho na Terra me levará ao caminho das aves. Nesse tempo darei o último passo aqui e descobrirei, finalmente, onde você respira e quais os ventos que sacodem as suas roupas brancas.