quarta-feira, 18 de julho de 2007

No final, as letrinhas


Foi terrível aquela espera. Coisa difícil receber em casa a mala inchada, suja de barro. As roupas estavam arrumadas, dobradas e úmidas. A Bíblia estava lá, um pouco empenada. Conservei-a comigo até que, finalmente, também parti desse mundo.


Mas esse não foi o pior momento. Antes disso houve o reconhecimento dos corpos. Vi coisas feias, pessoas deformadas, inchadas... Muitas delas. Nojento, inesquecível, tétrico.


O corpo jamais foi encontrado.

Foi então um "fim-sem-fim". Sabe esses filmes franceses? Esses que a gente demora a entender que acabou? Pois é. Acabam de repente, sem mais nem menos e a gente leva um tempo para entender que não vai haver mais nada mesmo. Enquanto não aparecem os créditos, as letrinhas burocráticas, a gente não se convence.


Tudo acaba em letras, burocracia, documentos. É na hora da formalidade que passamos a imaginar como será daquele momento em diante.


Foi assim comigo.

1 comentários:

Rafael Faraon disse...

No filme da vida, depois das letrinhas, sempre o gosto de quero mais...