Me incomoda ver você aí, imobilizada nessa foto, tranquila e de pernas cruzadas eternamente, calmamente, rindo como se zombasse de mim e da minha saudade. Cara, você tá rindo de mim, mãe! Rindo de mim, das minhas pieguices e curiosidades com relação ao além.
Agora que você já tem todas as respostas eu devo mesmo parecer muito engraçada mesmo...
Seu riso hoje parece tão maroto, tão moleque, tão humorado! E eu aqui, me sentindo igualzinho como quando eu era criança. Lembra? Lembra quando eu chorava batendo o pé por alguma manha insignificante e você não levava a sério? Aí me fazia cócegas, dançava e cantava "toda menina que enjoa da boneca é sinal que o amor já chegou no coração." Eu ficava furiosa! rsrsrs Anos mais tarde achei meigo e ria comigo mesma dessas brincadeiras.
Hoje estou como criança de novo: amuada. E você aí na foto, rindo e zoando de mim toda enigmática.
quarta-feira, 30 de julho de 2014
Cócegas
Postado por
Cristina Faraon
às
14:06
0
comentários
Santo Agostinho
"A morte não é nada.
Apenanas passei para o outro mundo.
Eu sou eu. Tu és tu.
O que fomos um para o outro, ainda somos.
Dá-me o nome que sempre me deste.
Fala-me como sempre me falaste.
Não mudes o tom a triste ou solene.
Continues a rir do que ríamos juntos.
Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo.
Que meu nome se pronuncie em casa como sempre se pronunciou.
Sem nenhum exagero, sem rosto de sombra.
A vida continua significando o que significou.
Continua sendo o que era.
O cordão da união não se quebrou.
Por que eu estaria fora do teu pensamento, apenas porque estou fora de tua vista?
Não estou longe, somente estou do outro lado do caminho.
Seca tuas lágrimas e, se me amas, não chores mais."
Santo Agostinho
Postado por
Cristina Faraon
às
13:55
0
comentários
sábado, 28 de junho de 2014
Você
Essa música é pra você, pai. Tanta saudade!
Essa é a música da minha alma para sempre; nossa música pai. Minha e sua. Aos bons e poucos momentos em que tive você comigo.
Lembra quando a ouvíamos na sala de casa enquanto a mamãe preparava o jantar? Lembra quando eu ficava fitando seu rosto apaixonadamente? Lembra como eu te amava? Eu queria ser a sua bailarina, sua princesa. Mas você foi embora e não tive nem seus restos mortais. Seu corpo se perdeu em uma avalanche tão estranha! Essa música é a sua cara, pai. Sabe, mamãe chorava quando ouvia. Às vezes essa era a música secreta de toda a nossa família.
Faz tempo que não choro a sua partida, mas hoje ...
Às vezes penso que em você e com você eu tive a minha parte mais autêntica. Eu era mais eu. Às vezes penso que também me perdi quando você sumiu na avalanche. que meu caminho foi interrompido bruscamente e mudei de rumo. Quando olho pra trás sempre imagino que morri também, que a Cristina que eu seria perdeu completamente a chance de ser, então ficou no passado. E é por isso que me parece que em alguma dimensão muito distante ainda estamos os dois, juntos, de mãos dadas, caminhando pela estrada em silêncio, sendo nós mesmos e seguindo o nosso destino.
Um beijo, pai.
"Como é tão triste meu Green Fields sem meu bem!"
Lá tão distante
Por trás do sol
Lá bem distante
Onde o pôr do sol
Põe tons vermelhos
Na noite como um véu
Onde aos meus olhos
A terra encontra o céu
Vivia outrora o meu bem
Em Greenfields
Greenfields é o meu lar
Meu mundo enfim
Lá eu guardava
Alguém só para mim
Lá eu esperava
À noite o meu bem
Lá onde o sonho
Morava enfim também
Vivia outrora o meu bem
Em greenfields
Eu nao sabia
Que um dia ao regressar
Já nao mais teria
Alguém à me esperar
E que o encanto
A paz e o amor
Se tornasse em pranto
Frio e amargor
E hoje de volta
Para o meu lar
Já não mais encontro
Alguém à me esperar
Tudo é tão triste
Na fria solidão
Em tudo existe
Envolve à mim também
Como é tão triste
Meu Greenfields
Sem meu bem
Postado por
Cristina Faraon
às
19:53
0
comentários
Leva eu, sodade!
Ô leva eu, minha sodade
Eu também quero ir
Minha sodade
Quando chego na ladeira
Tenho medo de cair
Leva eu, minha sodade !
Menina tu não te lembras
Daquela tarde fagueira?
Tu te esqueces e eu me lembro
Ai que saudade matadeira!
Leva eu
Minha sodade ...
Na noite de são joão
No terreiro uma bacia
Que é pra ver se para o ano
Meu amor ainda me via
Leva eu
Minha sodade...
Postado por
Cristina Faraon
às
19:34
0
comentários
sábado, 12 de abril de 2014
Lembra
Volta teus olhos adultos
Cristina Faraon
Postado por
Cristina Faraon
às
19:39
0
comentários
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
Aos poucos
E eu aqui sendo mãe. E eu aqui envelhecendo, perdendo conta a conta as contas do meu colar. Aos poucos os amigos.e a popularidade minguam. Aos poucos vamos ficando livres, maravilhosamente livres, mas sem disposição para voar. A vida e muito irônica.
Postado por
Cristina Faraon
às
19:57
0
comentários
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
O que tenho a dizer hoje
"Por isso o meu coração está feliz, e as minhas palavras são palavras de alegria; e eu, um ser mortal, vou descansar cheio de esperança, pois tu, Senhor, não me abandonarás no mundo dos mortos. Eu tenho te servido fielmente, e por isso não deixarás que eu apodreça na sepultura. Tu me tens ensinado os caminhos que levam à vida, e a tua presença me encherá de alegria.” (Atos 2:26-28 )
Postado por
Cristina Faraon
às
16:52
0
comentários
terça-feira, 12 de novembro de 2013
Heranças
Eu era seminarista. Não sou mais. Recebi o diploma em uma noite muito linda, uma das mais lindas da minha vida. Meus olhos brilhavam de idealismo. Agora não preciso mais desse diploma. Quando cheguei aqui ninguém me perguntou por ele. Só importava a pureza do que senti naquela noite.
Fui missionária. Quando cheguei aqui ninguém me perguntou quantas pessoas consegui levar para a igreja. Só o que contava era se eu acreditava mesmo no que dizia, se me dirigia às pessoas com amor, se era com respeito que segurava cada mão que chegava a mim.
Se todos soubessem o que realmente importa... Se todos soubessem que tão pouco é necessário! E que a contabilidade do mundo não encontra nenhuma equivalência aqui! Ah como meus irmãos viveriam mais leves!
Tive uma vida difícil. Tudo foi com muita luta mas era tão importante para mim aquela noite de formatura! Como eu estava feliz quando recebi o diploma, como me emocionei, meu Deus! Meu coração parecia que ia explodir. Me senti incumbida de algo grandioso, magnífico, da missão mais
importante do mundo. Como não se comover?
É, eu era assim. Meu coração... meu coração... queria tanto que as pessoas tivessem podido ver um pouco do meu coração!
Minhas experiências do passado, guarde-as no peito como uma lembrança minha, como conselhos, sopros de cuidado sobre seu rosto. Pense em mim como mãe. Guarde um pouco dessa Alba doce, desses cabelos brancos na sua memória. Lembre do brilho dos meus olhos. Não peço isso porque eu me ache especial. Guarde-me com carinho se eu tiver sido especial para você.
Se puder, conte aos seus filhos algumas das minhas histórias. Use a minha experiência para o seu bem. Se delas você nada souber, pergunte aos que conviveram comigo. Ou não...
Todo esse pouco é só o que pude deixar. Outros bens não tive. Para meus filhos, além do meu amor e dos ternos momentos que passamos juntos, ficam minhas apostilas, livros, anotações, fotos, roupas, pares de brincos, sapatos usados, pentinhos de cabelo e vidros de remédio pela metade.
Sabia que se eu não olhar pra trás não haverá passado? Se eu não parar para pensar em como foi, é como se nada tivesse havido! É engraçado.
Folhas leves caem sobre meus ombros. Quando respiro fundo, todo o meu ser se renova.
Postado por
Cristina Faraon
às
12:47
0
comentários
Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos (Roberto Carlos – 1971)
Postado por
Cristina Faraon
às
12:29
0
comentários
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
Seus livros
Esses dias, mãe, joguei fora algumas das suas coisas. Eu sei que agora isso não tem mais importância mas sabe, me deu uma dor no coração! É como se tivesse sido mais uma despedida, mais uma separação, outro adeus. Quase vi sua chalana sumindo atrás das árvores, deslizando sem ruído.
Aqueles livros que a senhora tanto prezava, que me mostrava folheando e dizendo "olha Cristina, esse livro é ótimo! Tem muitas coisas interessantes, você vai gostar. Dá uma lida quando você tiver tempo, minha filha. É muito bom!"
Ai mãe...
Estava tudo lá, empoeirado. Eu sabia que não iria ler. Não porque eu não gostasse, mas porque estou meio desgostosa. Aqueles livros são para pessoas que pretendem ensinar, compartilhar conhecimento. É o tipo de informação que pede para ser transmitida só que não há há mais ninguém no mundo para eu fazer isso. Cada dia mais um pedacinho do seu mundo se perde.
Parece que não há mais mentes curiosas, inquisitivas. Tudo aquilo que lhe empolgava e dava prazer - e a mim também - as pessoas ignoram e desprezam conhecer. Não há interesse.
Então ali, sentada no quarto, eu olhava para aqueles livros - tão "a sua cara"- e me dava uma angústia, uma saudade, um sentimento de "Em Algum Lugar do Passado." Não me desfiz de todos, mas sei que um dia vou fazê-lo.
De que me adianta guardar o seu Cantor Cristão se ninguém mais valoriza aquelas canções? Aquele volume surrado me deixa triste, saudosa do tempo em que cantávamos juntas e nossos olhos se enchiam de lágrimas. Nossos olhos se encontravam na mesma esperança, na mesma fé. Sabíamos que estávamos sentindo a mesma coisa, comungando de algo elevado e caro, além desse mundo. De que adianta olhar aquilo se não tenho mais com quem compartilhar essas emoções?
Quando eu peguei "Os Evangelhos Comparados" ou "A Harmonia dos Evangelhos', só me lembrei da senhora e da sua empolgação com a compreensão daquelas coisas. Se eu pegava um estudo sobre Jerusalém ou a Palestina antiga, ah... Parecia que eu estava vendo seus olhos brilharem visualizando locais que jamais pisou, visitando virtualmente o contexto histórico e geográfico da Bíblia.
Suas músicas, seus dicionários, mapas, apostilas, livros... Mãe, eu joguei um monte de coisas fora. Me perdôa.
Postado por
Cristina Faraon
às
07:22
1 comentários